UM TEMPO SEM GRANDEZA

Não sou capaz de avaliar, com precisão, se o individualismo ou a preocupação com os interesses próprios já foram tão grandes, com nesta fase da história. Houve um tempo em que a preocupação com os interesses coletivos foi o motor que moveu a humanidade para frente. Foram tempos de grandes mudanças precedidos pela intenção de melhorar o mundo. Movimentos sociais, filosóficos, de grandes pensadores e ideólogos que queriam transformar a face do mundo, para melhorar as condições da vida humana.

Ao conversar com as pessoas, eu percebo que, atualmente, a única preocupação é mudar a vida delas, poucos se preocupam com o que a acontece com o seu vizinho, com o seu bairro, com a sua cidade e com o seu País. Levar vantagem, a qualquer custo, é o mantra! Este caráter deletério, estendeu-se para as classes políticas que somente pensam nelas e nos seus interesses, transformando tudo numa Capitania Hereditária, a ser preenchida por esposas, filhos, amigos e componentes do grupo a que pertencem. Nesse ambiente fechado, a mudança é inexistente. Constate isto nos postos de comando de cima abaixo em todo o País. Veja os pretensos candidatos das eleições que se aproximam (os mesmos).

Fala-se que faltam lideranças e citam exemplos de grandes líderes do passado! No ambiente, acima descrito, o surgimento de lideranças é improvável. O egoísmo e o apego doentio ao poder é que ditam os passos dos mandarins que aspiram à continuidade. O novo não vem e, certamente, não virá! Mudar para que? Só se for “para ficar como está”, como preceitua Giusepe Tomazio de Lampeduza, no seu livro, O Leopardo.

Inventaram uma forma de financiar suas campanhas políticas com o rico dinheiro público e quem fica com a chave do cofre é o comandante mor que diz e desdiz o que fazer ou não fazer. Neste sombrio ambiente, nada é plantado e, portanto, não existe colheita. Enfim, um tempo sem grandeza!

O caráter, escrúpulos, as crenças e as ideologias são palavras e conceitos vazios que não significam mais nada. Sendo apenas um trampolim para se chegar ao poder e mantê-lo a qualquer custo. O poder pelo poder e nada mais!

O pessimista que existe em mim diz que estamos em marcha batida para o caos. O otimista claudica para frente e para trás e não sai do lugar.

Não sou especialista para indicar caminhos, até porque neste improvável País tudo acaba em samba. Certamente, que iremos desembocar na Marquês de Sapucaí. Vamos aguardar – sem muita fé – que um Tempo Rei virá nos arrebatar do abismo que se abre à nossa frente!

Vou voltar para um terreno mais seguro: as minhas crônicas. Se as abandono, uma vez ou outra, é porque esta maldita indignação me sufoca!

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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