VIVER DUAS VEZES
Este é o nome de um filme espanhol lançado recentemente, pela Netflix, dirigido por Maria Ripoll e tendo excepcionais atores: Oscar Martinez (Emílio) no papel principal, a linda atriz Inma Cuesta (Julia), bem como uma criança com dotes de uma excelente atriz.
O tema do filme é a demência, por Alzheimer, que é progressiva e atinge boa parte das pessoas que envelhecem, com uma abordagem primorosa no filme. De repente, a pessoa acometida desse mal começa a ficar repetitiva, devido aos lapsos de memória, lembrando-se de fatos antigos, esquecendo-se dos mais recentes. Vai fazer uma atividade e não termina e fica fazendo divagações e falações sobre coisas que as pessoas que estão ao seu redor ignoram como, por exemplo, o enigma da matemática chamado “quadrado mágico” e uma das leis de Newton que estabelece que “a soma de todas as forças é zero”.
É um filme tenro, sensível que começa com as imagens de uma feliz infância, com um saudoso amor do personagem principal, para nela tentar voltar no final surpreendente da película, que se passa na bela e primorosa Valência, tendo como pano de fundo uma dolente canção, que encerrará este texto.
Num diálogo entre a mãe (que cuida de todos), e a filha menor, revelando que o seu pai dela tenha uma amante e mãe confirmando: Sim, eu sabia! E daí! O que quer que eu faça? Que eu me divorcie? Eu não acho justo! Porque eu me esforço muito para manter esta família unida. O que eu posso fazer se o seu pai não consegue manter braguilha fechada…. Eu não fiz nada de errado….”
Outro diálogo interessante é quando a filha pergunta ao pai quem é ela? E ele responde que é sua mulher. Ao perguntar quem é a neta e ele responde que não tem neta. Bem como, nos testes de memória, a que o personagem é submetido, onde lhe é perguntado sobre contas simples de aritmética e ele se zanga, por ser professor universitário de matemática aposentado e, ao responder, acusa a médica de o estar tratando como um retardado. Quando a doença se agrava, ele não consegue mais responder as mesmas indagações.
A neta do personagem que sofre, com as provocações de ser aleijada, porque manca de uma perna e acha que tudo pode ser encontrado num pequeno aparelho celular, mas que não conseguiu encontrar o paradeiro de Margarita, a namorada de infância do seu avô. Isto não o desanima, apesar da sua memória estar-se apagando, vai com a família a um falso endereço, de smoking e um buquê de flores, não a encontrando novamente, mas insiste e, aí, o filme dá uma virada surpreendente que eu, meu caro leitor, vou deixá-lo descobrir quando assistir ao filme.
Deixo-os, entretanto, com um trecho da bela canção Perfídia – de amor não correspondido – que permeia, com uma voz suave, todo o filme:
– Mulher
Se você pode falar com Deus
Pergunte a ele se alguma vez eu
Deixei de te adorar….
Quem sabe por onde andará Quem sabe que aventuras terá Você está tão longe De mim!…….
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br