UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

E vou continuar devendo ao leitor, o artigo sobre o livro de Incidente Em Antares/Editora Globo de Érico Veríssimo, prometido em recente artigo. Como todos os brasileiros foram pegos de surpresa com o estigma da enchente que castigou e continua maltratando o povo gaúcho, vejo-me na contingência de me socorrer do referido livro para escrever este artigo.

Antares é um local fictício, situado nas margens do Rio Uruguai, na divisa com a Argentina, concebido pelo referido autor, para ser o palco de um incidente auspicioso e insólito que ocorreria, no dia 13.12.1963 (sexta-feira), “tornando essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia ….de um drama talvez inédito nos anais da espécie humana… O Padre Gerôncio chegou a exclamar, dentro do seu templo, que aquilo era o começo do Juízo Final. Nesse momento de susto e angústia coletiva, um cético gaiato, desses que costumam menosprezar a terra em que nasceram e vivem, murmurou: “a troco do que Deus havia de começar o Juízo Final logo neste cafundó onde Judas perdeu as botas”.

A tragédia que se abateu sobre Antares foi grande, mas o que ocorreu no Estado do Rio Grande do Sul, foi de proporções nunca imaginadas. A força das águas das chuvas insistentes, por semanas, deixou grande parte do Estado embaixo de água, com milhares de pessoas desabrigadas, sem rumo, além de centenas de mortes de pessoas e animais, agravada pela sede, por doenças, pela fome e saques. Enfim, levou tudo que tinham!

A seca não matou os nordestinos e nem a água afogará os rio-grandenses. Euclides da Cunha, no livro Os Sertões, afirmou que: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”, mas o gaúcho também o é. A sua bravura demonstrada em lidar com grandes adversidades – ao longo da sua história – é testemunha imperecível da sua imensa dimensão e do seu denodado empenho em superar obstáculos. Este é apenas mais um!

Este incidente prova que o brasileiro, além de outras qualidades, é empático, amigo e solidário. A solidariedade, a inquebrantável esperança e o trabalho árduo conduzirão os nossos irmãos, a um porto seguro e alegre do querido, festivo e heroico Rio Grande do Sul. A água irá escorrer, lavar e enxugar a alma do povo forte e altivo que habita nas suas belas paragens, em busca de um futuro promissor e de tempos mais auspiciosos.

Acenda o fogo! Prepare a cuia! Mate um novilho! Ponha a carne no espeto! Vamos em frente que tem muita coisa para fazer! “Não está morto quem peleia!… É peleando que se ganha”. (Os Farrapos).

P.S. – Descobriu-se que se as obras de contenção das águas, com verbas já aprovadas, tivessem sido executadas, grande parte desta catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul teria sido evitada. Este é o Brasil vítima da incúria, do descaso, dos interesses escusos que, no futuro, sempre perdoa os culpados.

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.b

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