Não me cobres coerência, eu escrevo crônicas! O que é uma crônica? É um texto que narra normalmente o cotidiano e este, nem sempre, se retrata ou se revela pelos primados de Descartes. A lógica da vida cotidiana é ela mesma, com sua imensa diversidade, liberdade e autonomia; às vezes com, e outras vezes, sem nenhum sentido. É comum dizer que a vida imita a arte, mas é esta que imita a vida!
Quem controla a vida: o destino, o imponderável? Para os religiosos, um ser superior. Para outros, um destino selado ou improvável que se move ao sabor de circunstâncias. A se acreditar numa dessas afirmações, somos um boneco de cordas que se movimenta ao sabor de forças desconhecidas ou de circunstâncias imponderáveis!
Como se explicam os dramas que se vive neste tempo conturbado? Ninguém quer dissensão e nem guerras, mas o desatino mata crianças e pessoas inocentes e desconhecidas nas esquinas, nas ruas e nas escolas, em reprováveis episódios cruéis, isolados e sem sentido. E o mundo, num equilíbrio frágil, na beira de um abismo, aguarda um desfecho trágico e irreversível.
Não consigo – por severo e diuturno contágio – me desvencilhar do tema violência/destruição, pois este é o enésimo artigo que escrevo sobre isto. Acho que deve ser uma obsessão que me persegue como se eu fosse o mensageiro do apocalipse! Sentei-me na frente deste computador para escrever sobre o tema leve: Amor só é bom se doer. E me enveredei para a escuridão. E agora não consigo dar cabo no que pretendia fazer.
A minha mente gira em círculos sobre um tema que me inquieta e me apavora. Sou prisioneiro de um círculo vicioso que sai e volta para o mesmo lugar. Acho que “o demônio do meio-dia” tenta se apossar de mim e me empurra para um poço onde, meus caros leitores, eu não tenho a intenção de conduzi-los.
De qualquer forma eu sou inofensivo e não tenho vontade e nem disposição para causar maiores estragos, mas de qualquer forma me recuso a ser o mensageiro de coisas nefastas. Creio que estou tentando chamar a atenção para a insensatez humana e do consequente perigo que nos ronda e que pode colocar tudo a perder. Prometo-lhes um tema mais leve, na próxima semana, quando o aquariano sair das trevas para onde foi compelido a contragosto.
Para afastar o banzo que persegue este anunciante de preocupações cruéis, sobejas e nefastas, vou indicar-lhes, o livro Demônio do Meio Dia de Andrew Solomon, Editora Objetiva/2001. Este livro descreve a história de depressão que em maior ou menor grau subjuga o subconsciente de boa parte das pessoas, neste mundo complexo e miseravelmente perturbado.
Por fim, peço-lhes desculpas pelos eventuais exageros, pois eu costumo ter a mão pesada, quando se trata da preservação vida. Considerando-me um humanista, é ela o bem mais precioso que para mim existe.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgenery@terra.com.br