A ideia de que as coisas deveriam ser únicas, definitivas, permanentes e imutáveis me persegue insistentemente. E isto creio que está preso no passado, onde não posso mudar mais nada. Entretanto, o saudosismo é uma condição humana, inafastável porque está recluso em algum momento da vida, sem remissão. O lugar onde nasci e cresci estão encantados em mim, assim como tudo que vivi. ”As pessoas não morrem, ficam encantadas”, como afirmava o gênio Guimarães Rosa. Passam a incorporar o universo de onde vieram. São acréscimos mágicos ao mundo real das pessoas.
Gostaria que as coisas não mudassem. Acho que o permanente, o imutável, o definitivo e o eterno me perseguem. Ficaria certamente feliz para sempre se tivesse casado e assim permanecesse pelo resto da vida com uma das mulheres que passaram na minha vida. Por que nenhuma delas foi definitiva? Este é um mistério que não sou capaz de decifrar. Perdi-me dos ensinamentos de minha primeira professora chamada Cristina! Ela me aparece de vez em quando para me repreender e dizer qual a orientação que devo seguir, mas desaparece quando tento abordá-la. Sinto a presença de minha mãe a meu lado sempre, a dizer para este órfão: vá em frente! E outras, mesmo distantes, se acham no dever de me aconselhar. Acho que sou um sem rumo! Fiquei privado de todas elas! Esta solidão etérea, transparente, inconfundível e inafastável me persegue insistentemente. Fico me indagando por que todos estes personagens são femininos? Enfim, acho que os meus fantasmas vestem saias!
Acho que me procuro nas mulheres! Tenho várias pinturas de mulheres, as mais diversas, na minha casa. Deve ser o poço sem fundo que procuro preencher com o universo feminino. Eu não tenho uma explicação razoável, mas deixa para lá, pois não foi este o objetivo deste texto que descambou para um assunto de minha predileção.
Este texto seria sobre a procura de mim mesmo que ficou aprisionado em algum lugar do passado! Na minha primeira infância, na turma do ginásio, no internato, no 2º grau, na faculdade ou em algum momento ou lugar que eu não consigo situar.
Deparei-me com uma reportagem na TV, neste sábado, sobre uma turma que completava 50 anos da formatura do ginásio, com pompas e circunstâncias e a alegria de todos. Fico pensando, se estas pessoas que foram felizes, continuam sendo ou a vida é um filme de eternas recordação de bons e melhores momentos? Vá Saber!
Na próxima semana eu e os meus colegas que restaram da turma da Faculdade de Direito completaremos dezenas de anos de formados. Os que estão vivos irão e, daqui a pouco, não restará ninguém para contar a história, pois já terão migrado para o olvido de outro plano. Será finito, e/ou continuará no universo de Guimarães Rosa, com os desdobramentos incertos e improváveis de um mundo encantado.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br Site –