Amanhã – terça-feira – vence meu prazo para a remessa do artigo a ser publicado na quarta-feira aqui nesta coluna, no Jornal A Gazeta. Confesso que ando estéril, pois tenho notado que os textos que fluíam espontânea e regularmente não surgem mais. Ando lutando comigo mesmo para encontrar a inspiração perdida. O que aconteceu? Não sei definir bem o que sucedeu. Parece que fui atingido por um esgotamento ou uma saturação que não me deixa sair do lugar. O poço secou, logo no verão quando chove tanto!
Numa reflexão profunda, no início do século passado, Machado de Assis, no Soneto de Natal, faz a seguinte confissão: – “A folha branca pede-lhe inspiração; mas, frouxa e manca, a pena não acode ao gesto seu. E, em vão lutando contra o verso adverso, só saiu este pequeno verso: “Mudaria o Natal ou mudei eu”.
Longe de mim me comparar ao insuperável Bruxo do Cosme Velho, mas ele foi vítima do mesmo mal, pois a folha branca lhe pediu inspiração que não veio e a única coisa que saiu da sua pena foi a dúvida cruel que poderia ter mudado por ser o Natal.
Aqui estou, em véspera do Natal, sem saber não somente o que escrever, mas o que fazer. Acho que a inércia é contagiosa, pois ela me obrigou, nestes últimos anos, a ficar em casa de papo pro ar me viciando na inatividade. O uso do cachimbo é que entorta a boca!
Entretanto, pode ter outras explicações: será que eu já disse tudo que tinha a dizer e estou rodando em círculos sem que a minha pena me conduza a lugar algum! Ou foi o enfado de ter tentado discutir ideias através dos meus textos que ninguém ler, como vaticina, impiedosamente, um estimado amigo meu.
Seja o que for, este ano e os dois anteriores não foram fáceis para ninguém. A turbulência, a insegurança e as incertezas econômicas, sanitárias e políticas afetaram a todos. O País entrou dividido, meio a meio, nas eleições de outubro, tendo como protagonistas, o fanatismo e a irracionalidade que ainda teimam em não saírem de cena.
Mas é Natal um ano que termina e outro que vem, com diz a canção. Vamos renovar as esperanças e acreditar que tudo vai se encaminhar para bom termo. Seja para o Brasil, seja para mundo inteiro que vive uma crise que não pode mais agravar, torcendo para que a guerra de anexação seja contida, pois, se for ampliada, pode pôr tudo a perder.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br