Inés da Minha Alma – Editora Bertrand Brasil – Ed. 2007 – é um dos tantos livros que saíram da pena da genial escritora chilena Izabel Allende, uma das maiores escritoras da língua espanholas da atualidade. Eu li este livro já faz algum tempo, mas o fiz, como sempre faço, grifando as partes dos trechos que me chamam atenção – para não ter que relê-los. E foi esse o motivo que me deparei com uma parte grifada que me chamou novamente a atenção, pois é pertinente para responder uma questão fundamental, nem sempre pacificada, nos relacionamentos amorosos: qual a melhor forma de lidar com o parceiro nos relacionamentos afetivos? É certo que não existe uma fórmula pronta, mas para as mulheres que são mais ansiosas, nessa questão, a referida escritora, dar alguns preciosos conselhos.
“As vezes basta secar o suor da testa de um homem cansado para que coma pela mão que o acaricia. Não é necessário ser necromante para isso. Ser leal e alegre, escutar – ou pelo menos fingir que o faz -, cozinhar bem, vigiá-lo sem que ele se dê conta para evitar que cometa besteiras, gozar e fazê-lo gozar em cada abraço, e outras coisas muito simples é a receita. Poderia resumir tudo em duas frases: MÃO DE FERRO, LUVA DE SEDA
Lembro que Pedro falou do camisolão de dormir com um buraco em forma de cruz que a sua esposa Marina usava, fiz a secreta promessa de não ocultar o meu corpo ao homem que compartilhasse minha cama. Mantive essa decisão e o fiz com tal falta de vergonha até o último dia em que estive com Rodrigo, que ele nunca notou que minhas carnes tinham afrouxado, como as de todas as velhas. Fui simples com todos os homens que me tocaram: agi como se fosse bela e eles acreditaram. Agora que estou sozinha e não tenho
quem fazer feliz no amor, mas posso garantir que Pedro o foi enquanto esteve comigo e Rodrigo também, inclusive quando a sua doença o impedia de tomar a iniciativa. Desculpe, Izabel, sei que lerá estas linhas um pouco perturbada, mas é conveniente que aprenda. Não dê atenção aos padres, que disto nada sabem”. (pag. 259).
A par das recomendações acima, eu indico a leitura do livro – e faço pela segunda vez nesta coluna – pois trata-se da epopeia da fundação do Chile, com todas as nuances de uma pungente história humana, onde várias questões como a ganância pelo ouro e a perseguição e morte de indígenas que foram dizimados e expulsos de suas terras são pontuais. Enfim, uma tragédia sul-americana, traçada pelas mãos hábeis de Izabel Allende.
O livro virou uma série muito bem-feita que se encontra na Amazon. Se a preguiça lhe pegar, ao menos assista ao filme que vale pena se inteirar das venturas e desventuras do fundador do Chile: Rodrigo Valdivia e da luta de uma mulher heroica para tentar fazer valer a condição feminina num tempo que em que o machismo reinava absoluto.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br