“A esperança é como o sal, não alimenta, mas dá sabor ao pão”. (José Saramago). Esta frase de grande profundidade foi veiculada, por alguém no Facebook. Acima da sua publicação, tem uma menina parda e humilde com umas sandálias de dedo, maiores que os seus pés, com um lenço amarrado na cabeça, empunhando uma enorme bandeira que parece ser do movimento sem terras. Os comentários, não foram pela frase do escritor famoso, mas contra o que representa a bandeira empunhada pela infante.
Dá para perceber a dimensão que tomou conta do radicalismo, no Brasil. É contra o tal movimento que já teve o seu período de glória, que se dirigiram todas a armas da intolerância. Veio o ódio e a raiva e desabou em cima dos membros daquele movimento e do que ele representa, se é que ele ainda representa tanto. O fanatismo é um sentimento perverso que encontra limite na extinção pura e simples dos contrários, como se a Constituição – que completa 34 anos – com seus preceitos primorosos de respeito a vida e ao próximo, não existisse.
Este País tem muita coisa a resgatar e, uma delas, é não deixar a intolerância tomar mais corpo. E talvez, a maior todas é tirar tanta gente que chafurda na indigência, na pobreza e na miséria. Este propósito não é uma questão ideológica ou política, mas cristã. É bom lembrar do que disse recentemente o Cardeal Dom Cláudio Hummes: ‘Não se esqueça dos pobres‘”. Nessa direção, a nossa dívida para com os negros é imensa. Mais da metade deste país é negro ou pardo e pobre que a sociedade não resgatou da escravidão.
Os negros e os pobres não são seres inferiores. Se tivessem vez e oportunidade eles não seriam o que são? Os soberbos que os desprezam, não seriam o que são se tivessem nascidos nas favelas violentas, deste ingrato País que faz de conta de que eles não existem.
Onde estariam aqueles que do alto das suas intolerâncias, tivessem nascido na barriga de miséria? O que fariam os supremacistas que fazem o juízo, frente e contra as minorias oprimidas e seus métodos? Seria bom que todos calçassem as sandálias do pescador, antes de fazer determinados comentários e de tratar os outros com desprezo.
Creio que o País será resgatado quando todos se propusessem a tirar da indigência os descendentes da escravidão. Fica aqui esta afirmação para a reflexão daqueles que pensam com isenção!
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br