O OUTONO DA VIDA

 

A velhice é um tema recorrente e, a todo momento, com o passar do tempo, topa-se com ela em todos os lugares e, sobretudo, no espelho, onde temos que encará-la, toda manhã, e não mais para lembrar do bordão: espelho, espelho meu tem alguém mais belo (a) do que eu! A fuga do espelho é uma escapatória precipitada de nós mesmos, pois nos recusamos a nos encarar e ficar face a face com a nossa decadente figura. Enfim, como dizia Roberto Campos: a velhice é uma consumada e completa desmoralização.

Um dos grandes inimigos dos velhos é ócio. Uma vida de trabalho e um fim de vida de vazios. O dia para rir, reclamar, chorar e a noite para dormir, quando Morfeu permite. Normalmente, as noites são acompanhadas de incômodos de toda ordem: problemas e males que não são e nem serão resolvidos. Os torturantes achaques do corpo e da alma! Lá na cidade onde eu fui criado tinha um Senhor, a quem a minha mãe perguntava: como vai o Senhor? E ele respondia: Dona Adalgisa com uma dosada (um acúmulo de dores).  Não conheço uma síntese mais apropriada para retratar os incômodos permanentes da idade avançada.

                                                Os velhos servem de burro de carga para cuidar de filhos de pais folgados. Em alguns casos de arrimo de família. Normalmente, são tidos como impertinentes, ranzinzas, teimosos e obsessivos. Têm um fervor em querer resolver os problemas da descendência quando não estiverem mais aqui. O meu pai que não fugia a regra, queria por que queria viabilizar e ou resolver os problemas dos seus filhos. Chamava um a um e aconselhava. Queria fechar os olhos em paz. Se foi e o mundo continuou a girar como sempre girou. O mundo gira e a Luzitana roda!  Os problemas que não foram e nem serão resolvidos continuam ai a desafiar a lógica e o senso comum.  Os seus descendentes bem ou mal continuam a jornada e terão os mesmos problemas e as mesmas preocupações.

                                      A renovação é necessária e faz parte da vida. As crianças nascem, crescem, ficam velhos e morrem. É a lógica implacável da natureza. Os velhos eram os oráculos e hoje foram substituídos pelas respostas prontas e ouvidos de mercador do mundo digital. Não é preciso jogá-los num canto qualquer ou num asilo abandonados, pois eles foram a semente da vida que desdobraram em novas vidas. Da morte não escapa ninguém! É preciso que se tenha uma compreensão melhor do mundo e da vida, pois empatia, a bondade devem pauta-los, uma vez que somos uva do mesmo cacho e pó do mesmo chão para onde retornaremos um dia desses!

                                      Acho que ando nostálgico para abordar novamente este tema. Creio que seja movido pelas sequelas da Covid que me perseguem, há cinco meses. Haja paciência e resignação! Passará como tudo neste mundo!

                                      Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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