A MORTE

                            Volto novamente a temas incômodos que me acometem sempre que estou nostálgico.  A semana passada foi a banalização da vida e, desta feita, será a morte. E isto se deve a uma matéria que circula, na Internet, onde uma mulher morreu sozinha e em sua casa, em uma localidade no interior da Itália, e somente foi descoberta, dois anos e meio depois, pela polícia, que arrombou a sua casa para intimá-la, a fazer a poda das árvores da frente de sua casa, e dentro dela encontraram a sua múmia.

                            Este fato é a negação da nossa vida em sociedade, pois ela se formou tendo como motivo primordial a proteção mútua. E como um elefante velho a pessoa se foi, com uma anormalidade incomoda, isolada – e ninguém sentiu a sua falta – e assim morreu na mais completa e absoluta solidão de uma sociedade que insisti em reafirmar a sua inaptidão.

                            Avançou-se em progressão geométrica rumo a ciência e regrediu-se nas relações humanas. Não se aprendeu a respeitar o próximo e a viver civilizadamente. Um selvagem cinismo nos distancia e libera, sem controle, as armas fogo e quer deflagrar um conflito sem volta na Ucrânia – que se começado – não terá retorno, face aos atuais arsenais de guerra que poderão levar a mais completa destruição e não sobrará ninguém para contar a história.

                            O certo é que falta apreço à vida e a morte nos ronda a cada esquina das grandes cidades. Incidentes recentes no Rio de Janeiro, comprovam esta cruel evidência. A sua banalização é assustadora. Se a vida é ou não um fato natural ou uma dádiva divina não vem ao caso. O certo que a sua preservação é dever de todos. Bem como, temos que fugir do fatalismo de que a morte tem dia e hora certa, pois ela pode ser adiada com os benefícios e avanços da medicina e evitada combatendo as pandemias, endemias, catástrofes, guerras e a estupidez humana.

                            A morte é um acontecimento sem volta. Ela é tão séria que somente deixa perguntas sem quaisquer respostas. Simplesmente acontece, legando a estupefação, continuando a seguir seu macabro itinerário, a lembrar que a vida é um sopro e não vale um pequi ruído.

                            Portanto, se não cultivamos o apreço, a bondade, o carinho, a empatia e outros valores éticos e religiosos, a nossa passagem por este torrão – se é que tem outro – não terá qualquer sentido. Reafirmo que ninguém é maior ou menor do que ninguém e que todo ser vivo tem uma boa razão para existir e deve ser respeitado. Não foi delegado a ninguém o poder de atentar contra a vida e, muito menos, de ter-se a integral compreensão deste mundo.

                            E este texto triste – que certamente não será o último – é apenas para lembrar que não podemos jogar tudo embaixo do tapete, temos que lutar e enfrentar cara a cara o que acontece. E neste enfrentamento, precisamos sempre ter em mente a nossa fragilidade – a um passo da morte sem data marcada – nos transformando numa múmia esquecida num canto qualquer, numa sociedade em que o amor não é o contrário de ódio, mas de uma cruel indiferença.

                                      Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@tera.com.br

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