Tenho, nesta página, dividido, há mais de um lustro, minhas angústias, dúvidas, inquietações e alegrias com o leitor que me lê semanalmente. Não fui, não sou e nem quero ser o dono da verdade. Mesmo por que esta é atemporal e não tem proprietário.
Entretanto, acho que, por formação humanista, tenho o dever de ao menos tentar – nesta terra de cegos, canalhas, vigaristas e da falta de audácia homens de bem – acender uma vela para tentar alumiar o caminho à procura da razão para que ela retire os antolhos dos nossos olhos, banindo do nosso cotidiano, o obscurantismo, nos mostrando uma vereda pela qual poderemos sair deste cipoal que nos sufoca, pois existe um País anestesiado por incompreensões, mal entendidos, maquiavelices, patifarias e má-fé.
Sou vítima de um pessimismo crônico, mas estou me redimindo sempre pela voz rouca do otimismo que afirma: tenha paciência! Vem na minha mente a lembrança do escritor francês Anatole France que ficava duvidando da utilidade dos seus escritos ao compará-los com o mourejo dos agricultores que produziam comida para matar a fome e preservar a vida.
Olho para este nosso desditoso País e vejo-o dividido em duas vertentes de um perverso radicalismo, no meio uma pretensa 3ª via e a boca aberta do fisiologismo a aguardar que ganhe Chico ou Francisco, para ele se sagrar vencedor.
É o realismo fantástico que roda e roda, contaminando todo o Continente e que volta sempre ao mesmo lugar. Como sair deste círculo vicioso eu não sei? Para mudar é preciso vir o novo, mas este dificilmente se anuciará, por que os donos dos partidos estão cada vez mais fortes e manipulam os bonecos de cordas ao seu talante e, ora, montados em grossa grana do fundo partidário, o usará, sem escrúpulos, em benefício próprio.
Enfim, começo o ano tendo como vencedor o meu crônico pessimismo, sem muitas perspectivas e nem esperanças nas eleições de outubro quando o mando será mantido e/ou mudado dependendo de uma série de fatores de um País equilibrista que não aguenta mais continuar pendurado num despenhadeiro, como Godot (Peça de Samuel Beckett), à espera de um personagem (futuro) que não aparece.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgenry@terra.com.br