UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

Havia uma banca de revista, na esquina próximo de minha casa, onde os jornais ficavam democraticamente estendidos com a exposição das manchetes onde qualquer pessoa poderia ler. Eu conversava sempre com o dono da banca que reclamava de diversos assaltos.

– Eu não saio mais aos domingos de manhã para pegar o jornal na banca que não existe mais e ele pode ser encontrado num aplicativo de computador. Aliás eu nem saio mais. Estou cada vez mais isolado, pois além do receio de violência, quase tudo está ao meu alcance, via Internet. Não preciso sair de casa, pois o mundo pode ser posto dentro dela. O mercado me leva os víveres no apartamento. Nem preciso cozinhar, se não quiser, pois um aplicativo manda entregar as refeições na minha casa. O meu vizinho eu mal conheço, pois como eu, ele pouco sai da toca.

–  A guerra passou a ser feita por “drones” que já desempenham um papel importante em várias áreas de atividade. No Afeganistão – na retirada americana –  matou-se várias pessoas por controle remoto. O telefone celular se encarrega de dificultar o contato físico das pessoas que o usa para quase tudo. Entro nos cafés, nos restaurantes, nos parques e em vários lugares vejo as pessoas pregadas num telefone, alheios ao mundo que os cerca.

 –  As crianças são fascinadas por este aparelhinho que brilha. Daqui a pouco estará nascendo bebês equipados com um móbile. Os amores de aluguel podem ser viabilizado pela Internet. Os filmes pornográficos, em profusão, fazem, sem contato físico, a festa dos solitários (a). Os filhos não conseguem viver sem um aparelho móvel que os acompanham por todo o lado. Ele é um companheiro inseparável e a “glória” das mulheres que dão vazão a sua compulsão oral falando pelos cotovelos.

– Os advogados não precisam sair do escritório, pois podem trabalhar, através da Internet em qualquer lugar do País. O bom convívio nos fóruns acabou-se. Os juízes, que já eram infensos aos contatos pessoais, encontraram o que queriam: o isolamento total e completo. Os contatos com eles são feitos via Whatsaap e as audiências via Internet.

– O médicos, com as exceções devidas, necessariamente não precisam de contato físico com o paciente, pois estes podem ser feitos via digital e os exames enviados de mesma forma e a prescrição chega pronta na casa do paciente.

– As máquinas produzem via remota. E empregados, se for conveniente para o patrão –  não precisam se deslocar de suas casas para exercerem o seu múnus. Os carros vão andar sem chofer.

Enfim, caminhamos em macha batida rumo a solidão e ao isolamento total e completo. É o triunfo absoluto da tecnologia!   Vai chegar ao ponto em que os contatos físicos não se efetivarão por causa dos efeitos colaterais. A boa e salutar conversa será com as máquinas!

Não sou especialista na área do comportamento, mas não sei onde tudo isto vai dar. Tenho, entretanto, algumas certezas. O homem é gregário e foi por isto que ele se juntou em comunidades e, pelo mesmo motivo, progrediu, expandiu e se tornou o dono do mundo. Ao contrário, seria o isolamento e neste não há salvação. O amor, a solidariedade, a empatia, o carinho e a amizade são sentimentos de compartilhamento. Sem eles a vida perde o sentido. Enfim, acho que estamos nos perdendo onde o caminho de volta é desconhecido.

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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