CLIMA DE DESERTO

Vivemos aqui no Centro da América do Sul. Por ser o Centro do Continente estamos livres de terremotos e outros fenômenos naturais que dificilmente chegam por aqui, pois a distância se encarrega de dissipá-los pelo caminho. Até o saudável vento que sopra por aqui é curto, pois ele se perde no caminho da lonjura. Livre do vento, de tufões e tempestades, o calor se apossa de tudo. Cuiabá é a única cidade do País que está todos os dias em todos os jornais, pois o capeta sentou praça aqui e botou fogo em tudo. Temos a maior temperatura média do País.

E pelo persistente calor, a cidade é objeto de pilhérias e anedotas. Fala-se que aqui se frita ovo no asfalto com uma temperatura média acima de 30º e que, em determinados dias do ano, beira 50º graus centígrados. Se cuiabano for para o inferno não vai estranhar, pois estará aclimatado com os rigores do fogo!

O Dr. Lenine Póvoas, de saudosa memória, dizia que temos aqui, no inverno que vai de junho a setembro, um clima de deserto. Numa temperatura que vai além do 40º é um ar rarefeito, cuja umidade chega a menos de 10%. Velhos, crianças e aqueles acometidos de doenças respiratórias sofrem muito. Ele me dizia que procurava sair daqui, neste período, para lugares com o clima mais ameno como o litoral.

Ressalte-se que o clima inóspito de deserto aqui tem uma agravante. No deserto, a temperatura baixa durante a noite e aqui ela permanece em níveis iguais ou aproximados da temperatura do dia. Enfim, o inferno é aqui!

As pessoas acometidas de COVID – que compromete os pulmões – são as novas vítimas deste clima inclemente. Falta ar para respirar e o color se encarrega do resto desidratando as pessoas.

 Na Europa se programa as férias para o verão (junho/setembro) a fim de aproveitar o clima mais quente. E aqui as pessoas deveriam tirar férias no inverno, para fugir do nosso clima ingrato. Aliás, o calendário escolar deveria levar em conta este fenômeno, pois a falta de chuvas e o calor infernal não é um bom aliado no aprendizado. O maior período de férias escolares deveria ser neste período e não no verão quando elas são mais extensas.

Enfim, é preciso aprender e se adaptar aos caprichos da natureza, pois segundo Darwin, os que sobrevivem não são os mais fortes, mas os mais adaptados ao meio ambiente. Portanto, algumas cabeças pensantes desta área deveriam promover estudos do nosso clima para indicar os melhores caminhos para viver e sobreviver nesta terra quente e de açúcar que vira melado nos invernos de todos os anos.

P.S. Crença – na pequena cidade do interior onde vivi até os 13 anos de grande influência nordestina, quando faltava chuva ou ela era escassa, as mulheres junto com as crianças levavam latas de água que conduziam na cabeça para molhar o cruzeiro, a fim de chamar a chuva. É preciso acreditar que mais dia ou menos dia a chuva cairá em abundância para sairmos deste sufoco.

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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