Às vezes, não damos a devida importância para a vida, mas a sua preciosidade atávica nos fortalece para preservá-la. Há uma crença popular de que ninguém morre antes do tempo, pois a morte é tão caprichosa que marca dia, hora e até segundos para pôr fim a vida.
Se temos um encontro marcado com a morte, por que uns velhacos, inaptos e incompetentes podem, por desídia e má-fé, matar inapelavelmente tanta gente com esta maldita pandemia? Não creio que, nestas circunstâncias, onde o homicídio é evidente, aquela premissa se aplica indistintamente, pois me recuso a acreditar que canalhas e cretinos sejam detentores de um bem tão precioso como a vida, pois se assim fosse ter-se-ia que acreditar que o mal é maior e mais efetivo que o bem. Que a treva é maior que luz! Que a vida, neste torrão, é um completo e absurdo equívoco!
Eu fui um menino deslumbrado e extremamente curioso. Estas qualidades me levaram a procurar explicação para tudo que desafiava a minha compreensão. Foi esta busca que me levou compulsivamente aos livros e, por consequência, me tornei um autodidata a procura de respostas. Para alguma delas eu não encontrei uma explicação plausível em lugar nenhum. E uma delas é para a morte.
Brinca-se com a vida como Charles Chaplin, no filme o Ditador, numa representação caricata de Hitler, desdenha do mundo ao pegar um globo inflado e ficar impulsionando-o para cima e para baixo. Enfim, o dono do mundo poderia fazer o que quisesse dele. Ou então, nos estertores da vida, faz-se o seu louvor e o seu enterro, sob o embalo de uma orquestra que toca enquanto o navio do filme Titanic estava afundando. Acho que esta última analogia se aplica perfeitamente ao nosso caso. Trabalha-se e sacrifica-se incessantemente para debelar o vírus e a morte. Entretanto, do Chefe do Governo/Estado et caterva e fazem deboche dos cuidados, dos estragos que a pandemia causou e, ainda causará, na esteira de tanta dor e tanto sofrimento.
Certamente que tudo vai passar, pois os canalhas e as suas canalhices, também, passam. Chegará o dia em que a nossa crença no trabalho será plena para nos impulsionar para frente. E nesse dia, passaremos a acreditar, sem quaisquer dúvidas, que a nossa arma é o voto que se bem usado pode muda-lo. E que este mesmo voto pode nos redimir e nos retirar desta lama, onde chafurdamos, para encontrar um caminho seguro. E que a nossa democracia seja perene, pois somente nela podemos errar e acertar! E da próxima vez iremos acertar!
P.S. Quando morre a semente nasce vida! Portanto, a morte pode ser o começo e não o fim! Como alento para minorar as nossas dores e os nossos sofrimentos, nestes tempos incertos e tão difíceis, é preciso crer que somos sementes que quando fenecem se transformam em árvores frondosas de um imenso parque em algum lugar.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br