Venho procurando um assunto para escrever a crônica desta semana, mas não tenho ânimo para me libertar deste limbo que me oprime, me humilha e me deixa apático e sem ânimo para pensar em alguma coisa consequente. Dizem que a depressão é um poço sem fundos onde o nada vezes nada se debatem num duelo sem fim.
A prisão a que o Estado submete as pessoas é como se as colocassem vivas num ataúde. Enfim, um sepultamento de pessoas vivas. Não sei que utilidade tem esta prática de se segregar as pessoas, sob o pálio de torna-las melhores, pois não creio que se reeduca pessoas desta forma, como se educação e formação não fossem um ato de dedicação e de amor!
Não tenho a real dimensão de ser enterrado vivo numa prisão. Entretanto, a segregação a que fui submetido, nesta pandemia, se prolonga com uma maldição sem fim me deixando sem chão, sem espaço e sem ar. Fico imaginando o suplício de ser enclausurado numa UTI ou pior ser deixado, sem remissão, numa enfermaria ou num corredor de hospital sem um tratamento adequado e digno. Os médicos, enfermeiras e auxiliares estão esgotados. Não há vagas, não há remédios e nem oxigênio. Esta doença é para os meus medos o inferno em vida, pois se eu fosse para o inferno não teria a sensação do sofrimento físico que me atordoa e me apavora. Não tolero o sofrimento físico!
Já foram contaminadas, neste Brasil de meu Deus, milhões de pessoas. Mais de 300.000 já foram bater na porta de São Pedro em outros 3.000 fenecem e ampliam todos os dias. A minha sensação de impotência se prolonga a espera de uma retardatária vacina que não chegou e parece que não chegará aos da minha idade, pois depende muito mais de boa vontade de Governos e empresas estrangeiras do que de atitudes do nosso omisso Governo Central.
Casos e mais casos são relatados, em profusão, pela imprensa e, ora esta maldita pandemia está matando jovens e crianças. Outro dia encontrei um amigo saudável, no sábado, e soube que ele foi internado na terça-feira seguinte, morrendo no sábado subsequente. Barba é para pôr de molho e a minha – que eu sequer cultivo – já está nessa água quente há muito tempo. Estamos todos no patíbulo! A você que me lê, talvez este seja o último texto da minha lavra!
Estamos completamente órfãos, abandonados nas ruas e filas do descaso, enterrados em valas comuns dos campos santos, sem choro, sem velas, sem sequer sermos velados, na hora derradeira, pelos nossos familiares e amigos que ainda resistem. Enfim, estamos literalmente nas mãos do satanás que se diverte com este circo de horror. O que fizemos para pagar este preço tão salgado?
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br