Já faz algum tempo que eu assisti, pela televisão, a reportagem sobre um local, no Rio de Janeiro, onde estavam empilhados incontáveis bustos abandonados que foram colhidos aleatoriamente pela prefeitura em diversas praças, logradouros e outros locais públicos. Estes bustos, em algum momento da história, representavam homenagens geralmente feitas, em cerimônias com pompas e circunstâncias, para algumas pessoas autoras de um grande feito ou por relevantes serviços prestados.
Hoje, as pessoas homenageadas, jazem esquecidas num canto de um depósito público, sem nome e sem identificação, vítimas de um cruel esquecimento. Tudo é efêmero! Vamos ser todos esquecidos!
Após a queda de URSS, os bustos e estátuas de figuras proeminentes do antigo regime eram defenestradas de diversos locais da Rússia, num revisionismo sem precedentes. Algumas antigas autoridades proeminentes desfilavam, paramentadas a caráter, na Praça Vermelha, para mostrar, à indiferença das pessoas, que elas foram importantes. É difícil aceitar a passagem do tempo e constatar que somos todos passageiros neste torrão! Insistimos, todos nós vamos implacavelmente para o olvido!
Eu me lembrei dos fatos acima, quando deparei com a notícia de que os bustos de diversas praças públicas, aqui em Cuiabá, estão sendo furtados – e por serem de bronze – serão derretidos. Numa inusitada alquimia, os homenageados serão transformados numa pasta disforme para ser negociada no mercado negro, a preço vil. Certamente que as boas intenções e o desvelo daqueles que mandaram fazer os bustos não tiveram a dimensão deste curioso desfecho. Curiosa é a vida! Curioso é o mundo!
O que foi importante ontem, pode não ter mais qualquer valor no futuro. Quando nos apegamos a determinadas verdades, vaidades, dinheiro, ideologias, religiões ou dogmas é preciso ter a dimensão da fragilidade de que tudo se resume num “fogo fátuo” aparecendo e desaparecendo ao sabor das matérias apodrecidas do fundo das lagoas.
Enfim, tudo se esquiva com o passar implacável do tempo que desfila impassível em nossa frente!
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br