Somos concebidos pela junção de duas vontades: o encontro de espermatozoide com um óvulo. Discute-se, com paixão, se é dado ao homem interromper os desdobramentos deste conúbio que resultará em um filho. O certo é que o ser que irá ser concebido irá nascer, crescer, amadurecer e morrer inapelavelmente. A única coisa certa neste mundo é morte, como dizia a minha mãe! A maioria das pessoas não aceita que somos finitos. Acha que a existência prossegue em outro plano. E as religiões nos confortam com promessas de outra existência. Entretanto, uma pretensa outra vida é um mistério indecifrável, pois a morte é definitiva e não deixa espaço para uma explicação plausível.
E aí quando a morte ceifa um de nossos entes queridos ficamos perdidos a procura de uma resposta que as religiões dão, mas que nem sempre nos satisfaz. Tive que lidar com a morte de forma dolorosa e inquietante, quando perdi meus pais, um em seguida do outro. E confesso que estas perdas me cobram um ônus muito caro até hoje, passados duas dezenas de anos.
Lidei ultimamente com um amigo que, devido uma doença incurável, perdeu a mulher. Ele se recusa a aceitar o infausto acontecimento. Segundo ele dói a alma, dói o corpo e que as lembranças são tantas e tão boas que ele se revolta contra o Criador que seria o autor de tamanha injustiça, retirando-lhe a melhor parte de sua vida.
A solidão e o desconforto são imensos e insuportáveis. A morte é definitiva ela não dá e nem cobra respostas. É um fato consumado. Só nos resta apelar para racionalidade, se pudermos, pois é esta que nos mantém vivos. O que fazer para os mortos: nada, a não ser enterrá-los. O que não tem solução solucionado está! Se olharmos para nós veremos que precisamos cuidar da nossa saúde, pois existem inúmeras pessoas que dependem de nós e insistem em viver. E o desafio é continuar em manter a vela acesa, pois a vida pulsa em nosso redor.
Aos que se foram – somente cumpriram a etapa final da vida – certamente que ficarão livres deste vale de lágrimas e irão encontrar a paz em outro lugar. Mais dia ou menos dia seremos nós que embarcaremos na mesma nave e a vida certamente continuará sem nós. “A vida é trem bala parceiro, e a gente só passageiros, precisa partir…..” (Ana Vilela – Trem Bala).
A minha irmã escreveu, no jazido do meu pai, uma frase que não sei quem é o autor, mas que sempre me intriga: “Não deixe que a morte impeça de amar a vida, pois tudo é mistério…”
P.S. – Entretanto, uma coisa é morrer de causas naturais ou acidentais e outra é ser vítima de uma pandemia mal gerenciada pelo negacionismo de políticos irresponsáveis. Poder-se-ia ter evitado milhões de mortos e minimizado a recidiva que promete fazer mais estragos. Que a terra seja pesada para todos estes facínoras!
Renato Gomes Nery – e-mail – regery@terra.com.br