O ano de 1968 foi um ano emblemático que abalou o Brasil e o mundo. Os desdobramentos de acontecimentos políticos, sociais e culturais daquele ano mudaram a história do século 20 e reverberam até hoje na história da humanidade. – O ano de 68, para começo de conversa, é um desses anos constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço. – (Carlos Fuentes, do livro Em 68, pag. 09, Ed. Rocco -2005).
O ano de 1968 é conhecido como – “O ano que não terminou”, e entrou para a história como um ano extremamente movimentado e cheio de ideias e acontecimentos importantes que iriam abrir caminho para o futuro. As passeatas em Paris contra a ordem conservadora/capitalista/consumidora que encontrou eco no mundo inteiro. É deste período o lema: é proibido proibir. As manifestações, sobretudo, estudantis contra a Guerra do Vietnã, contra a Guerra Fria e os regimes autoritários da América Latina e do Leste Europeu.
Vale a pena ler ou reler o livro “O Ano Que Não Terminou” de Zuenir Ventura, a respeito deste período conturbando da história do Brasil, com repressão e reação, onde a ditadura tentava calar, a ferro e fogo, as manifestações sociais e políticas contra o regime.
Esta introdução é para falar de outro ano que marcará de forma indelével a história do mundo: 2020. Uma pandemia assola o mundo e promete ter desdobramentos por muitos anos. Ela nos deu a dimensão da fragilidade da vida que é presa por um fio aqui nesta existência. Todos estão vulneráveis aos caprichos de um vírus que se não for detido nos levará para outra dimensão.
O descuido com o meio ambiente pode nos levar a um caminho sem volta. A indução à descrença na ciência (vacina e outros meios prevenção e cura) pode pavimentar o retorno à Idade Média. Embusteiros, extremistas, insensatos e irresponsáveis podem pôr tudo a perder com uma conversa fiada contra a ciência, os nossos mais caros valores e as nossas instituições A nossa democracia tem mostrado a sua força e sua pujança, ao levar a lona estes vendilhões do templo.
Os reflexos deste ano (2020) que ainda não terminou prometem refletir por muitos e muitos anos. E tudo será vencido pelo tempo que mostrará novas soluções e novos caminhos.
Encerro este texto com uma apropriada citação de Carl Sagan – que reafirma a fé na ciência – no livro Bilhões e Bilhões – pag. 239 – Ed. Cia das Letras – 1998:
“Os cientistas e técnicos trabalham durante anos – com grandes dificuldades, muitas vezes por salários baixos e sem nunca ter uma garantia de sucesso. Eles têm muitas motivações, mas uma delas é a esperança de ajudar os outros, de curar doenças, de protelar a morte. Quando um cinismo exagerado ameaça nos engolfar, é animador lembrar que a bondade está em toda parte”.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br