Hoje é dia 16 de abril de 2020. Nos jornais noturnos da televisão, aparece o Presidente da República para anunciar a demissão do Ministro da Saúde e apresentar o novo Ministro. A feição do Presidente denota abatimento e cansaço, certamente o peso do cargo está cobrando o preço, ante tantos problemas, agravados por uma pandemia de difícil consenso. A cena é coroada por um terno acanhado, acompanhado de uma camisa com uma das abas em desalinho do simplório mandatário mor. Nem de longe lembra um recente ex-presidente com seus vistosos ternos de grife.
Ao lado do Presidente encontra-se o novo Ministro, cuja indumentária parece ter saído de uma garrafa. Uma fala mansa e pausada parecida com a de seu antecessor. Parece que vai manter tudo que foi feito, com exceção dos velhos que serão submetidos, se necessário, a uma roleta russa.
O vírus corona é uma doença que se evita com confinamento e se cura com cuidados, prevenções, remédios, vacinas e, sobretudo, racionalidade e bom senso. Este é o protocolo observado no mundo inteiro. Tudo o mais é conversa fiada. Entretanto, a fogueira das vaidades faz, como nas lagoas quando chove: todos os sapos dão as caras para coaxar. Vide governadores e outros políticos sedentos de ribalta. Bem como do chefe maior cujo brilho não pode ser empanado por subordinados. Vaidades de vaidades. Tudo é vaidade! Diz o pregador no livro Eclesiastes da Bíblia.
O estrelismo permeia os atos das autoridades que se esquecem que estamos lidando com um inimigo traiçoeiro. Em uma situação parecida (gripe espanhola) ceifou a vida do Presidente eleito Rodrigues Alves e pode não poupar a vida do atual, infenso ao confinamento, flerta com o abismo e se jacta de ter sido atleta. Ninguém está a salvo, pois navegamos no mesmo barco. Lembro de uma estória de um livro que li, mas não me lembro do nome e nem o autor, onde um prefeito de interior que se recusava a combater uma doença coletiva veio a falecer vítima dela.
Antes de qualquer coisa é preciso ter humildade. Esta pandemia é, também, sinônimo de morte. Querer ser maior ou tirar proveito de situações como esta, não contemporiza com a gravidade da situação e é uma manifesta canalhice. Mesmo por que ninguém é maior que ninguém. Somos todos iguais e a morte socializa a vida. Vamos todos para o mesmo local: a cova.
Rios de dinheiro estão sendo colocados nas mãos de prefeitos e governadores. Retiraram-se as amarras que mal continham a gastança e paga-se para ver o que acontecerá num ambiente exacerbado, onde não se fala a mesma língua e nem se tem os mesmos propósitos. Além do mais, prorrogou-se o pagamento de dívidas dos Estados com a União, o que aumenta o fluxo de caixa daqueles. Um cenário perfeito para a nossa velha conhecida: a corrupção crônica que não só não se contagia como dá de dez a zero em qualquer vírus.
É pagar para ver o desenrolar e o fim do espetáculo. Se o vírus vence os políticos ou se estes vencem o vírus! E nós, aprisionados em casa, torcendo para que esta inoportuna pandemia seja logo debelada e não se transforme numa imensa tragédia, tornando mais penoso este nosso caminho de pedras.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br