A Colonização da América foi traumática. No México Cortez e seu séquito, que eram aguardados como deuses, transformaram Montezuma em seu prisioneiro. No Peru da mesma forma se recebeu de braços abertos Pizarro e, mesmo assim, este decepou as mãos do imperador Inca. Com toda brutalidade os espanhóis se impuseram aos desavisados índios um festival de força e de cruel dominação.
“A fuga dos deuses, que abandonaram seu povo; destruição dos templos; saque e destruição implacável das culturas; a devastação da economia indígena pela mineração e a encomienda, tudo isto, além de um sentimento paralisante de assombro, de pura admiração diante do que ocorria, obrigava os índios a ser perguntar: onde achar a esperança? Era difícil encontrar sequer um clarão no longo túnel que o mundo indígena parecia percorrer. Como evitar a desesperança e insurreição? (O Espelho Enterrado – Carlos Fuentes – Ed. Rocco – 2001, pag. 144).
A solução foi encontrada pelo primeiro arcebispo do México, Frei Juan de Zamarrága: dar uma mãe aos órfãos do Novo Mundo. Continua o referido autor (pag. 144/145):
– No início de dezembro de 1542, na colina de Tepeyac, perto da cidade do México, um local previamente dedicado ao culto da deusa asteca, a Virgem de Guadalupe, apareceu com rosas nas mãos em pleno inverno e escolhendo um humilde tememe, o carregador indígena Juan Diego, como objeto do seu amor e reconhecimento. Com um golpe de mestre, as autoridades espanholas transformaram o povo indígenas de filhos da mulher violada em filhos da virgem puríssima. Da Babilônia a Belém, numa faísca de gênio político, a prostituta tornou-se a virgem e a Malinche tornou-se Guadalupe -. Prossegue:
– Nada se mostrou tão consolador, tão unificador e digno de feroz respeito no México, desde então, do que a figura da Virgem de Guadalupe, ou as figuras da Virgem da Caridade, em Cuba, e da Virgem de Coromoto na Venezuela. O povo conquistado encontrou uma mãe -. E no Brasil, também, teria sido encontrada a imagem de uma santa, por pescadores, dentro do Rio Paraíba do Sul: Nossa Senhora Aparecida que tornou-se a mãe e a padroeira do Brasil.
Bem como, foi encontrado, também, um pai: Cristo. Foram trocados os deuses pagãos por quem os índios se sacrificaram por um Deus que sacrificou pelos homens. A memória foi recuperada. Enfim, a induzida capitulação definitiva dos povos do Novo Mundo.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br
. Enfatiza, o referido escritor (pag.147) – O resultado foi um sincretismo flagrante, a mescla de religiosa da fé cristã com a fé indígena, um dos alicerces culturais do mundo hispano-americano -.