A América latina sempre foi tema principal de seus maiores escritores. Pablo Neruda (Chile), Carlos Fuentes (México), Mário Vargas Llosa (Peru) e Izabel Allende (Chile), dentre outros que este pequeno texto não comporta. No Brasil, ela vem desde Padre Vieira e Gregório de Matos, cujas verves poderosas não deixavam pedra sobre pedra sobre as iniquidades do século XVII.
Neruda se desdobrou pessoalmente contra a Guerra Civil Espanhola, tendo papel decisivo no deslocamento de mais de vinte centenas de exilados para o Chile. Além dos altos baixos do seu amado Chile. Tendo sido vítima do Regime Pinhochet, pesando sobre sua morte a suspeita de envenenamento. Carlos Fuentes, entre outras atividades, passou 50 anos para escrever o livro Espelho Enterrado e tentar achar uma explicação para o subdesenvolvimento da América Latina. Mario Vargas Llosa um genial escritor comprometido com os países latinos do Continente e, sobretudo, de sua pátria, onde foi derrotado como candidato à presidente.
E, por fim, a combativa escritora Izabel Allende de vasta obra, se debateu e se debate no livro A Longa Pétala do Mar, Ed. Bertrand Brasil – 1ª ed. 2019 a Guerra Civil Espanhola e os desdobramentos desta expedição ao longo do tempo. Bem como relata, com riquezas de detalhes, o período da ditadura de Pinhochet, implantada(1973), com a sempre diligente ajuda dos EUA. Regime este do qual foi vítima e que implantou campos de concentração e expatriou e ceifou de centenas de milhares de chilenos. Tendo se exilado para Venezuela e depois nos EUA de onde colocou seu talento de escritora em favor de seu País.
O livro é um alerta para o período atual, com o ressurgimento da extrema direita, que coloca em risco as democracias do mundo inteiro, cujas consequências já se conhece de sobra no Continente Sul Americano. A escritora é emblemática a respeito dos desdobramentos do referido Golpe:
“……..na aparência o país era moderno e próspero, mas que bastava ranhar a superfície para ver os podres. Existia uma espantosa desigualdade. Três quartos da riqueza estava nas mãos de vinte famílias. A classe média sobrevivia de crédito; havia pobreza para muitos e opulência para poucos, bairros miseráveis que contrastava com arranha-céus de cristal e mansões muradas, bem-estar e segurança para uns, desemprego e repressão para outros. O milagre econômico dos anos anteriores, baseado na liberdade absoluta do capital e na falta de direitos básicos para trabalhadores, tinha desinflado a bolha. Disse que dava para sentir no ar que a situação ia mudar, as pessoas tinham menos medo, havia protestos de massa contra o governo, e ele achava que a ditadura poderia cair com o seu próprio peso; era hora de voltar” (pag. 236)”.
Fica o alerta aos entusiastas de regimes de força: fora da democracia, apesar dos seus defeitos, não existe salvação.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br