Vivemos numa época da relativização de valores, onde o mocinho do cinema e da televisão foi substituído pelo vilão simpático, amistoso, carismático, mas vilão. A Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, no seu livro Mentes Perigosas, Ed. Fontamar – 2.008, afirma – sem esquecer da nossa complacência com a corrupção – que – precisamos rever a nossa tolerância em relação às pequenas transgressões do dia-a-dia, como jogar papel no chão, buzinar em frente ao hospital, urinar em postes, cuspir nas calçadas, estacionar em locais proibidos, não recolher os dejetos dos animais de estimação e por ai vai -. Mas a questão ética e moral não pára ai. Se aprofundarmos um pouco mais, teremos algumas surpresas com a transgressão ética e moral do nosso comportamento social, como veremos a seguir.
Os convites de casamento – e até alguns de aniversário – vêm acompanhados de uma lista de presentes que se encontra em determinada (s) loja (s), podendo serem adquiridos até via Internet, através de cartão de crédito. O hábito vira imposição e não se deve ir a um desses eventos sem um presente, já escolhido e determinados pelos anfitriões. Não observar esta regra é como se ferir uma lei imposta a observância de todos. Existe somente uma alternativa, é não ir ao evento, mandando um telegrama de cumprimentos. Fora disto tem-se que gastar o rico dinheirinho para pagar com presentes os gastos da festa ou alguma viagem de lua de mel. Um regra de etiqueta é deixar os convidados a vontade para dar ou não presentes e outra é dizer para eles vocês vêm, mas tem uma contrapartida. Eis, portanto, um manifesto constrangimento, fruto de uma sociedade que esqueceu a noção de amistosos princípios de convivência.
Existe um caso pitoresco, onde uma pessoa foi convidada com expressa condição de trazer um determinado e caro presente de casamento. A pessoa não foi e ainda mandou dizer por que não iria e que se os nubentes quisessem é que comprassem tal presente.
Mas o cinismo não pára ai. Turmas de formandos – com as exceções devidas – são especialistas em convidar endinheirados para patronos, paraninfos e nome de turma, com a condição de que estes paguem a festa. E isto, as vezes, é feito em detrimento de professores que ganham pouco, mas que contribuíram decisivamente para a formação da turma.
Estas e outras são as pequenas transgressões sociais nos impedem de ter uma convivência livre, aberta e fraterna com os nossos semelhantes. Onde ficou a gentileza – de ceder uma cadeira para um idoso, um lugar ônibus, de não ocupar vagas de pessoas deficientes. O carinho, o apreço, a amizade e a doçura da dama que se espanta quando algum cavalheiro lhe abre a porta do carro e lhe faz lembrar que ela antes de ser uma pessoa independente é uma mulher e que uma mulher é uma preciosa flor e deve ser tratada com todo carinho. Mulher não é homem é dama e o homem é, sobretudo, um cavalheiro. E onde se perdeu o cavalheiro e a dama? É imperioso que se cultive os hábitos que nos tiraram das cavernas. Não se deve ver na gentileza, no carinho e no apreço uma ofensa. Somente com o culto e a prática de todos esses saudáveis hábitos e valores é que melhoraremos as nossas relações sociais, mudando a nossa sociedade e fazendo deste um mundo mais amistoso e mais fraterno.
Renato Gomes Nery é advogado em Cuiabá. E-mail – rgnery@terra.com.br