O PSICOPATA MORA AO LADO

                                     

                                      Certa vez, ainda na faculdade, travamos uma discussão com o professor Ivaldo Caetano sobre a questão de algumas pessoas terem ou não consciência daquilo que fazem. Ou seja se têm  consciência do mal que fazem as pessoas. Se chegavam a ter remorsos por isso.  Não chegamos à conclusão nenhuma. Tivemos recentemente, entretanto, a grata surpresa de encontrar esta resposta no Livro denominado de Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado – Ed. Objetiva Ltda – Fontanar – 2.008 – da primorosa autora Ana Beatriz Barbosa Silva. E esta certeza se materializa na figura do psicopata. Afirma ela que os psicopatas são: – frios, manipuladores, cruéis, e destituídos de compaixão, culpa ou remorso. Utilizam do seu charme e de sua  inteligência para impressionar, seduzir e enganar quem atravessa no seu caminho. Estão camuflados de executivos bem sucedidos, bons políticos, bons amigos, pais e mães de família, e não costumam levantar suspeitas sobre quem realmente são -. E os casos mais graves de psicopatas são os bandidos contumazes.

                                      Não se cria psicopata. Nasce-se psicopata. E acrescenta a autora – Assim como os adultos psicopatas, crianças com essa natureza são desprovidas de sentimentos de culpa ou de remorso, características inerentes às pessoas “de bem”. São más em suas essências – . O pior de tudo é que a psicopatia é um transtorno de personalidade, em virtude de uma disfunção neurobiológica (agravada em maior ou menor grau pelo meio social em que vivem) sem cura, pois cura psicológica implica em sofrimento ou desconforto. Como os psicopatas não têm esses incômodos  eles são incuráveis.

                                      Eles visam apenas ao seu benefício. Segundo a referida autora – Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio beneficio. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou  de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa e remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. E em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais”, em cujas veias  e artérias corre um sangue gélido. Ao contrário do que se pensa – eles não sofrem  delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e tão pouco apresentam intenso sofrimento mental ( como depressão ou o pânico, por exemplo) -. E por isso são um câncer na sociedade. O exemplo dessas pessoas são os pretensos amigos que nos traem e nos passam para trás sem a menor cerimônia. Adeptos da Lei de Gerson, somente querem tirar vantagens sem medir qualquer conseqüência.  E os casos mais graves que a imprensa noticia a todo momento são: os maridos que batem nas mulheres e  as culpam por isso, assassinos em série, pais que matam filhos, filhos que matam pais, estupradores, ladrões, golpistas, estelionatários, gangues que ateiam fogo em pessoas, criminosos do colarinho branco, empresários e executivos tiranos, políticos corruptos e seqüestradores.  

                                               Os psicopatas não têm consciência e, portanto, empatia que implica em se colocar no lugar do outro. Com a agravante, enfatiza a autora, citando o psiquiatra canadense Robert Here – os psicopatas tem total ciência do seu atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo as regras sociais e por que  estão agindo dessa maneira. A deficiência deles ( e aí é que mora o perigo) está no campo dos  afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém quem atravesse no seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte do seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem, exercida de forma livre e sem qualquer culpa –.

                                      Inquieta mais no livro  não é  somente a figura diabólica do psicopata e a influência que este personagem exerce sobre as pessoas, principalmente nas novelas, mas a transferência deste comportamento para sociedade (Lei de Gerson). E de certa forma  estamos contribuindo para a promoção dessa cultura psicopata, ao tolerar e até aceitar as pequenas e grandes transgressões. O livro é de leitura fácil, acessível e vale a pena assimilar os  seus ensinamentos, pois, as vezes, o inimigo dorme conosco e não  sabemos, até por que, nem sempre, é fácil identificá-lo.

                                               Renato Gomes Nery é advogado em Cuiabá – e-mail – rgnery@terra.com.br

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